sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Comparação na argumentação

Comparação na argumentação

COMPARAÇÃO E IDEOLOGIA

Ducrot ao analisar a comparação argumentativa  na obra de Carlos Vogt faz referência ao conceito de alteridade a qual Platão define as categorias da realidade, classifica o outro como a categoria fundamental de cuja essência  todas as outras participam e por meio da qual se constituem, ou seja, uma categoria só se caracteriza pelo que tem de diferente em relação a categoria OUTRO.
Já nos trabalhos de Benveniste em relação aos fenômenos linguísticos  diz que os signos só se constituem mutuamente , no discurso dialógico.
A pesquisa promovida por Vogt procura demonstrar que tudo na língua é comparação. Os elementos indicadores de tempo como já, mesmo, ainda, também..., são também comparativas, pois terminam sempre por confrontar os dados da experiência.
A estrutura comparativa argumentativa não define um termo em relação a outro, mas tem por fim induzir às conclusões advindas do emprego dessa forma lingüística.



DIFERENÇA ARGUMENTATIVA NA IGUALDADE LINGUÍSTICA

A argumentação tem por objetivo explicar e persuadir o leitor sobre determinados assuntos. Através da comparação a igualdade argumentativa possui em si o elemento negativo próprio da adversidade fazendo com que o receptor siga uma determinada direção. A igualdade que se processa deve ser considerada como um índice de diferença, assim o interlocutor utiliza os elementos da diferença argumentativa para conduzir o raciocínio do leitor.
Exemplo. Um articulista publicou no jornal Folha de São Paulo referindo-se ao grande fracasso organizacional das olimpíadas, comparando a olimpíada atual com a de 92 em Barcelona, cujo sucesso dependeu muito de um  envolvimento da própria comunidade local. Concluiu com a seguinte tese: “a julgar pela comparação com êxito de Barcelona-92, o empenho humano parece ser tão importante quanto a mais moderna tecnologia.”
Percebe-se ai através do contexto que mesmo que ele esteja comparando há elementos que mostra uma individualidade e uma característica  de oposição.
Pois apesar de ter toda tecnologia não foi o bastante para obter o sucesso já o envolvimento e o apoio do público foi mais importante, embora o articulista em nenhum momento tenha dito que o apoio foi mais importante.
Em uma análise argumentativa da comparação é necessário que se analise a forma como as estruturas se apresentam em função da vontade de um sujeito perante o outro numa determinada situação interativa.

Mirian Fernandes de Moura

A leitura na aula de português


A leitura na aula de português
Paulo Coimbra Guedes
Jane Mari de Souza

            Basicamente, Ana aula de português se aprende a ler em português, uma língua que não falamos, mas que por razões de política cultural, temos de ler e escrever. Então, ensinar a ler é contextualizar textos, o contexto que cabe ao professor de português construir com seus alunos é a língua portuguesa, que para nós, no Brasil, é produto do trabalho histórico de escritores brasileiros sobre a língua portuguesa. O trabalho histórico dos escritores brasileiros sobre essa construção de portugueses foi o de moldar essa língua, forjada para expressar a natureza e a cultura de Portugal, para que se fizesse apta a expressar a outra natureza e a outra cultura do Brasil.
Neste momento em que estamos vivendo, de radical questionamento dos valores lingüísticos dominantes, começam a ser criadas condições para que possamos passar a vivenciar uma mudança de atitude com relação aos valores historicamente atribuídos a essa relação entre língua falada e a escrita.
A primeira atitude necessária para contextualizar a língua portuguesa – a língua que não falamos- é estabelecer sua adequada relação com a língua que falamos para trazer para dentro de nossas salas de aula o diálogo que entre elas vem sendo promovido pelas mais significativas falas de nossa contemporaneidade e pelos melhores textos da cultura brasileira.
A segunda é ensinar verdadeiramente português: dar condições aos alunos para que dominem a língua escrita com todas as regras gramaticais, morfológicas e semânticas.
Ensinar ortografia, por exemplo, a partir de uma característica em que a fala e a escrita são fundamentalmente opostas: a ortografia constitui-se como um processo histórico institucionalizado de representação uniformizada e a língua falada de rege pela variação. A função da ortografia é preservar a inteligibilidade dos textos, apesar das variantes de pronuncias regionais, sociais e históricas das palavras.
Ensinar morfologia não para cobrar na prova a identificação da raiz, do radical, do prefixo etc, mas sim, para ensinar que as diferenças entre inquieto e inquietante, por exemplo,  pode ser tratada sistematicamente pelo significado dos sufixos ou dos prefixos, assim com antediluviano e antidiluviano.
Ensinar morfossintaxe  para mostrar que na língua escrita, diferentemente da falada, existem regras chamadas concordância e para explicar como funcionam a partir do que os alunos estão vendo acontecer nos textos que estão lendo e não a partir da língua que deveriam falar.
Para aprofundar a leitura dos textos importantes para a formação dos alunos, solicitar que cada aluno expresse o seu entendimento desses textos com vistas a um confronto de leituras por meio da leitura em voz alta do texto, da produção de resumos comparativos de diferentes textos sobre o mesmo assunto, de paráfrase, paródias de textos e construções sintáticas etc.
            Ensinar português, em suma, e não tratar os alunos como devessem ter aprendido a língua escrita antes de chegar na escola, pois eles só vão aprender português, uma língua que não falam, na escola.

  Mirian Fernandes de Moura

Não apenas o texto, mas o diálogo em língua escrita é o conteúdo da aula de português

Não apenas o texto, mas o diálogo em língua escrita é o conteúdo da aula de português

Paulo Coimbra Guedes
Jane Mari de Souza

            Ler é produzir sentido; ensinar a ler é contextualizar textos; o leitor atribui ao texto que tem diante de si o sentido que lhe é acessível.
            É um direito de cidadania do aluno a ter acesso aos meios expressivos construídos historicamente pelos falantes e escritores da língua portuguesa para se tornar capaz de ler e compreender todo e qualquer texto já escrito nessa língua. Ensinar a ler é levar o aluno a reconhecer a necessidade de aprender a ler tudo o que já foi escrito, desde o letreiro do ônibus e o nome das ruas, dos bancos das casas comerciais, leituras fundamentais para  sua sobrevivência e orientação numa civilização construída a partir da língua escrita.
            Ensinar a ler é também dar acesso aos meios expressivos necessários para que o aluno leia não apenas os seus contemporâneos, mas também os antigos para que ele possa perceber que a língua portuguesa que lê é produto do trabalho de homens como ele. Desse modo, ensinar a ler  é alfabetizar, levar o aluno ao domínio do código escrito.
 O professor de português deve estar aparelhado é para mostrar as diferenças de efeitos de sentido que podem ser obtidos com o uso de conjunções forjadas historicamente na língua para expressar relações de e efeito.
A contextualização mais adequada para o entendimento de textos sobre cada área do conhecimento vai ser feita pelo professor da respectiva área, e isso não se refere aos termos próprios da ciência em questão, mas também ao valor particular que nesse contexto assumem relações mais gerais de oposição, causa e efeito. Ensinar a ler é contextualizar o texto e explorar os seus possíveis sentidos; aprofundar a leitura é promover um diálogo da leitura feita pelo aluno com a leitura feita pela tradição, e essas tarefas são de todas as áreas.
                                                                                            
Mirian Fernandes de Moura

As gravatas de Mário Quintana

As gravatas de Mário Quintana
(Não basta saber uma língua para entendê-la)

O lingüista Mario Perini aborda nesta obra a questão da comunicação entre os indivíduos. De maneira bem clara ele explica que para haver um entendimento das idéias transmitidas pelo falante é preciso muito mais conhecimento do que apenas o ouvinte falar a mesma língua.
Segundo o lingüista, a língua exprime apenas uma parte do que se quer transmitir, pois para entender por completo as idéias que o falante transmite não bastaria o ouvinte saber organizar as regras da língua e sim ter um amplo conhecimento em comum com o falante, seja por meios de cultura, crenças, meio social etc.
Para exemplificar, podemos dizer que em um diálogo o falante poderia fazer uma simples pergunta como: Você sabe onde fica a biblioteca? O ouvinte poderia ouvir respostas diferentes como: “Sei” ou “Sei sim, fica no centro da cidade”. O fato é que a frase não necessariamente é uma pergunta também pode ser um pedido de informação. Em todo caso, depende de muitos fatores para que haja a compreensão correta da frase.
Perini utiliza um exemplo para mostrar os diferentes significados da simples preposição de. Quando se fala em as gravatas de Mário Quintana podemos entender que as gravatas pertencem a Mario Quintana(que é um poeta conhecido por muitos), porém quando dizemos as gravatas de Pierre Cardin o significado da frase muda completamente, pois para quem conhece Cardin (que é um estilista) a relação já diz que não precisa ser de posse e sim como “autoria”, ou seja, as gravatas foram criadas por Pierre Cardin.
Apesar da preposição ser a mesma, o contexto apresenta significados diferentes, se o ouvinte/leitor não ter conhecimento desses dois personagens provavelmente seu entendimento ficará “distorcido” e/ou ambíguo.
Com os exemplos citados acima, Perini mostra que o mais importante para o funcionamento da linguagem é acima de tudo o conhecimento de mundo. Outro fator essencial para a compreensão  e sabermos o tipo de texto que estamos lendo ou ouvindo, pois se alguém fala a palavra análise podemos ter vários significados que só poderemos identificar através do contexto que esta palavra está inserida. Sendo assim, podemos entender de um gramático que análise é a explicitação da estrutura de um período, já para um psicólogo, análise quer dizer que alguém faz alguma coisa deitado no divã e para um químico será uma atividade realizada no laboratório. Sendo assim, só podemos saber o real significado da palavra se soubermos do que o assunto se trata.
Como as palavras podem ter vários significados, devemos então, ter mais atenção com os textos que são compostos por várias palavras. Perini mostra um exemplo bem coerente para demonstrar como o sentido total do texto muda ao trocarmos uma palavra. Veja:
Mamãe comprou um frango; ela vai dar um churrasco amanhã.
Mamãe comprou um pastor alemão; ela vai dar um churrasco amanhã.
Percebe-se que na primeira frase o sentido do texto é bem coerente, pois a possibilidade de comprar frango para assar durante o churrasco é típico da sociedade brasileira, porém na segunda frase é estranho alguém comprar um cachorro para o churrasco, então o sentido do texto mudou e se nós brasileiros não costumamos comer cachorros, ao se deparar com tal texto ficaremos um pouco confusos tentando entender.
Segundo Perini, se o falante e o ouvinte não têm um mesmo conhecimento, um texto que é fácil para um, pode ser muito difícil para o outro. O ato de compreender o que nos dizem não se resume ao uso correto e eficiente da língua.
Assim, é preciso ter muita atenção com o significado das palavras e verificar o contexto para entender do que se trata o assunto.

PERINI, Mário A. Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 2001.

Mirian Fernandes de Moura

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

As Gravatas de Mário Quintana

Este texto do autor Mário Perini trata da forma como a língua é essencial na comunicação entre pessoas e na exposição de suas ideias. Porém, deixa muito latente de que não basta apenas duas pessoas falarem a mesma língua, mas sim de que comunguem um grande número de informações, assim como pertencerem a meios culturais semelhantes. Sem esse mínimo em comum, a língua deixa de funcionar enquanto instrumento de comunicação.
Pelo fato de a comunicação linguística possuir falhas, ela causa em muitas pessoas a frustração de não ter sido plenamente compreendida; esse problema se deve ao fato de que a língua exprime apenas uma parte do que se quer transmitir, pois se admite - erroneamente - o processo de comunicação como uma via de mão única.
O entendimento de uma simples frase não é somente a função de seus elementos constitutivos; necessita de informações sobre o contexto em que foi dita e de informações extralinguísticas. Em verdade, é o nosso conhecimento de mundo que nos dá a organização linguística; ela se apoia a todo instante em informações gerais sobre o mundo.
Outro ponto importante para a compreensão é ter o conhecimento do tipo de texto que estamos lendo ou ouvindo: só poderemos compreender se soubermos de que se está falando.
O entendimento de uma simples palavra depende crucialmente de informação extralinguística - afirmação recorrente neste texto - que nos mostra a difícil tarefa de compreensão das frases e das palavras. Perini menciona que o leitor precisa trabalhar para entender o texto. O receptor deve fazer uso do seu conhecimento de mundo, ver o que é necessário para a compreensão do texto e fazer as "pontes" de sentido para torná-lo uma unidade.
Um texto nunca é fácil ou difícil por si só; depende do leitor em questão. A compreensão de uma simples frase pode requerer preparação. É necessário que os interlocutores compartilhem grandes fatias do conhecimento do mundo. Quanto mais se conhece o mundo em geral, mais chances você terá de entender o que ler ou ouvir.
É adequado dizer que as pessoas se comunicam somando o que ouvem àquilo que sabem. Ou seja, quanto menos se sabe, mais difícil se torna a comunicação.


Aluna: Adriana Ramirez