sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A leitura na aula de português


A leitura na aula de português
Paulo Coimbra Guedes
Jane Mari de Souza

            Basicamente, Ana aula de português se aprende a ler em português, uma língua que não falamos, mas que por razões de política cultural, temos de ler e escrever. Então, ensinar a ler é contextualizar textos, o contexto que cabe ao professor de português construir com seus alunos é a língua portuguesa, que para nós, no Brasil, é produto do trabalho histórico de escritores brasileiros sobre a língua portuguesa. O trabalho histórico dos escritores brasileiros sobre essa construção de portugueses foi o de moldar essa língua, forjada para expressar a natureza e a cultura de Portugal, para que se fizesse apta a expressar a outra natureza e a outra cultura do Brasil.
Neste momento em que estamos vivendo, de radical questionamento dos valores lingüísticos dominantes, começam a ser criadas condições para que possamos passar a vivenciar uma mudança de atitude com relação aos valores historicamente atribuídos a essa relação entre língua falada e a escrita.
A primeira atitude necessária para contextualizar a língua portuguesa – a língua que não falamos- é estabelecer sua adequada relação com a língua que falamos para trazer para dentro de nossas salas de aula o diálogo que entre elas vem sendo promovido pelas mais significativas falas de nossa contemporaneidade e pelos melhores textos da cultura brasileira.
A segunda é ensinar verdadeiramente português: dar condições aos alunos para que dominem a língua escrita com todas as regras gramaticais, morfológicas e semânticas.
Ensinar ortografia, por exemplo, a partir de uma característica em que a fala e a escrita são fundamentalmente opostas: a ortografia constitui-se como um processo histórico institucionalizado de representação uniformizada e a língua falada de rege pela variação. A função da ortografia é preservar a inteligibilidade dos textos, apesar das variantes de pronuncias regionais, sociais e históricas das palavras.
Ensinar morfologia não para cobrar na prova a identificação da raiz, do radical, do prefixo etc, mas sim, para ensinar que as diferenças entre inquieto e inquietante, por exemplo,  pode ser tratada sistematicamente pelo significado dos sufixos ou dos prefixos, assim com antediluviano e antidiluviano.
Ensinar morfossintaxe  para mostrar que na língua escrita, diferentemente da falada, existem regras chamadas concordância e para explicar como funcionam a partir do que os alunos estão vendo acontecer nos textos que estão lendo e não a partir da língua que deveriam falar.
Para aprofundar a leitura dos textos importantes para a formação dos alunos, solicitar que cada aluno expresse o seu entendimento desses textos com vistas a um confronto de leituras por meio da leitura em voz alta do texto, da produção de resumos comparativos de diferentes textos sobre o mesmo assunto, de paráfrase, paródias de textos e construções sintáticas etc.
            Ensinar português, em suma, e não tratar os alunos como devessem ter aprendido a língua escrita antes de chegar na escola, pois eles só vão aprender português, uma língua que não falam, na escola.

  Mirian Fernandes de Moura

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