sexta-feira, 25 de novembro de 2011

As gravatas de Mário Quintana

As gravatas de Mário Quintana
(Não basta saber uma língua para entendê-la)

O lingüista Mario Perini aborda nesta obra a questão da comunicação entre os indivíduos. De maneira bem clara ele explica que para haver um entendimento das idéias transmitidas pelo falante é preciso muito mais conhecimento do que apenas o ouvinte falar a mesma língua.
Segundo o lingüista, a língua exprime apenas uma parte do que se quer transmitir, pois para entender por completo as idéias que o falante transmite não bastaria o ouvinte saber organizar as regras da língua e sim ter um amplo conhecimento em comum com o falante, seja por meios de cultura, crenças, meio social etc.
Para exemplificar, podemos dizer que em um diálogo o falante poderia fazer uma simples pergunta como: Você sabe onde fica a biblioteca? O ouvinte poderia ouvir respostas diferentes como: “Sei” ou “Sei sim, fica no centro da cidade”. O fato é que a frase não necessariamente é uma pergunta também pode ser um pedido de informação. Em todo caso, depende de muitos fatores para que haja a compreensão correta da frase.
Perini utiliza um exemplo para mostrar os diferentes significados da simples preposição de. Quando se fala em as gravatas de Mário Quintana podemos entender que as gravatas pertencem a Mario Quintana(que é um poeta conhecido por muitos), porém quando dizemos as gravatas de Pierre Cardin o significado da frase muda completamente, pois para quem conhece Cardin (que é um estilista) a relação já diz que não precisa ser de posse e sim como “autoria”, ou seja, as gravatas foram criadas por Pierre Cardin.
Apesar da preposição ser a mesma, o contexto apresenta significados diferentes, se o ouvinte/leitor não ter conhecimento desses dois personagens provavelmente seu entendimento ficará “distorcido” e/ou ambíguo.
Com os exemplos citados acima, Perini mostra que o mais importante para o funcionamento da linguagem é acima de tudo o conhecimento de mundo. Outro fator essencial para a compreensão  e sabermos o tipo de texto que estamos lendo ou ouvindo, pois se alguém fala a palavra análise podemos ter vários significados que só poderemos identificar através do contexto que esta palavra está inserida. Sendo assim, podemos entender de um gramático que análise é a explicitação da estrutura de um período, já para um psicólogo, análise quer dizer que alguém faz alguma coisa deitado no divã e para um químico será uma atividade realizada no laboratório. Sendo assim, só podemos saber o real significado da palavra se soubermos do que o assunto se trata.
Como as palavras podem ter vários significados, devemos então, ter mais atenção com os textos que são compostos por várias palavras. Perini mostra um exemplo bem coerente para demonstrar como o sentido total do texto muda ao trocarmos uma palavra. Veja:
Mamãe comprou um frango; ela vai dar um churrasco amanhã.
Mamãe comprou um pastor alemão; ela vai dar um churrasco amanhã.
Percebe-se que na primeira frase o sentido do texto é bem coerente, pois a possibilidade de comprar frango para assar durante o churrasco é típico da sociedade brasileira, porém na segunda frase é estranho alguém comprar um cachorro para o churrasco, então o sentido do texto mudou e se nós brasileiros não costumamos comer cachorros, ao se deparar com tal texto ficaremos um pouco confusos tentando entender.
Segundo Perini, se o falante e o ouvinte não têm um mesmo conhecimento, um texto que é fácil para um, pode ser muito difícil para o outro. O ato de compreender o que nos dizem não se resume ao uso correto e eficiente da língua.
Assim, é preciso ter muita atenção com o significado das palavras e verificar o contexto para entender do que se trata o assunto.

PERINI, Mário A. Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 2001.

Mirian Fernandes de Moura

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